Sionismo é travão à paz

Israel pretende <br> ocupação consentida

Continuação da construção de colonatos, demolição de edifícios e expulsão de palestinianos, bombardeamentos e bloqueio de comunidades são instrumentos que Israel usa para impor à Palestina uma ocupação consentida nas negociações de paz, cada vez mais ameaçadas.

Telavive quer impor mais do que negociar

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O anúncio do início da construção, esta semana, de mais 1500 casas para colonos na Cisjordânia, a demolição, na véspera de Natal, de habitações no Vale do Jordão deixando 68 pessoas sem tecto (32 menores de idade), e a garantia recente dada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de que «não deixaremos um só instante de construir o nosso país, de desenvolver os colonatos» são exemplos de uma estratégia que integra, ainda, o recrudescimento de operações militares.

Na semana passada, uma série de bombardeamentos israelitas contra a Faixa de Gaza provocaram dois mortos, entre os quais uma menina de três anos, e pelo menos seis feridos. Telavive garante que respondeu, primeiro, à morte de um técnico de manutenção da rede eléctrica que contorna o território bloqueado desde 2007, e, depois, ao lançamento de foguetes contra o Sul de Israel. A verdade é que, paralelamente, as forças sionistas atacaram casas e terras agrícolas em Gaza e Rafah, e bloquearam a fronteira de Karam Abu Salem e a região da cidade de Jenin, na Cisjordânia. Simultaneamente, o presidente israelita, Shimon Peres, ameaçou o povo de Gaza da imposição de ainda maiores restrições à entrada da ajuda internacional de que dependem em absoluto os 1,7 milhões de habitantes da Faixa, e de multiplicar por dez o número de ataques, desta feita condenados ao mais alto nível, nomeadamente pelo secretário-geral da ONU.

A organização das Nações Unidas para os refugiados palestinianos também condenou Israel e denunciou que, em 2013, já foram demolidos na Cisjordânia e em Jerusalém Leste 663 edifícios palestinianos, incluindo 259 habitações, deixando mais de 1100 pessoas desalojadas. O governo sionista alega que só derruba casas ilegais, mas a Amnistia Internacional, a Human Rights Watch e a Oxfam estimaram, este mês, que 60 por cento das demolições efectuadas estão nas proximidades de colonatos, sugerindo as acções com parte da estratégia para o seu alargamento.

Organizações humanitárias calculam, igualmente, que só no primeiro semestre deste ano mais de uma dezena de palestinianos foram assassinados por Israel e cerca de 1800 foram detidos.

 

Inaceitável

 

Tudo isto ocorre quando as negociações de paz entre israelitas e palestinianos, reiniciadas em meados deste ano, se encontram num impasse. A equipa de negociadores da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) está demissionária e acusa Telavive de «querer impor mais que negociar». O objectivo, disse, dia 19, um membro da equipa palestiniana liderada por Saeb Erekat, é «substituir uma ocupação forçada por uma ocupação por convite, autorizada por nós. Isso nunca vai acontecer», assegurou.

Em causa está a pretensão israelita de manter, pelo menos durante uma década, tropas ocupantes num Estado da Palestina desmilitarizado, a qual gozará do consentimento do secretário de Estado dos EUA, John Kerry. A proposta e o papel de Kerry nas negociações são crescentemente colocados em causa pela ANP e pelo seu presidente, Mahmoud Abbas, que, segundo o diário Ha'aretz, terá manifestado em carta enviada a Barack Obama o seu desagrado para com a parcialidade.

Obama parece pender para a posição defendida por Israel, uma vez que a 7 de Dezembro declarou que os palestinianos têm de aceitar um período de transição.

 

Arafat

A Autoridade Nacional Palestiniana mantém a intensão de prosseguir as investigações à morte de Yasser Arafat, garantiu o embaixador palestiniano em Moscovo, Fayed Mustafá. A declaração foi feita depois de a Agência Federal de Análises Biológicas da Rússia ter concluído que o histórico líder palestiniano faleceu de causas naturais.

O relatório russo foi entretanto contestado pelos peritos suíços que também analisaram amostras do corpo de Arafat. Segundo o director do Instituto de Radiofísica de Lausanne, a conclusão russa é política e contraria as evidências apuradas pelo seu laboratório, que indicam a existência de níveis de polónio 20 vezes superiores ao normal, sugerindo que a causa da morte será envenenamento por aquela substância radioactiva.

 

Desigualdade

Israel tem a pior taxa de pobreza entre os 35 estados da OCDE, revelou, no início de Dezembro, um relatório daquela organização, citado pela AFP. «Os rendimentos de cerca de uma em cada cinco famílias israelitas estão abaixo da (taxa relativa) da linha de pobreza», detalha o documento, que sublinha ainda que o flagelo atinge mais a população árabe, embora note «a crescente pobreza entre a comunidade judaica ultra-ortodoxa».

Israel situa-se na cauda da OCDE em indicadores como «as condições sociais, habitação, educação e formação, equilíbrio trabalho-vida, segurança pessoal, qualidade ambiental e envolvimento cívico», acrescenta-se.



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